Liderança: aprendizados com a apneia

Liderar pessoas é um processo que exige compreensão do contexto histórico, da cultura local e a da organização, bem como do perfil comportamental da equipe. Como a preparação e a a inteligência emocional sãos elementos-chave nesse processo, os esportes podem aportar excelente referencial.

Esportes são espaços de aprendizado sobre resiliência, motivação, objetivos, inteligência emocional e perfil de liderança. O mergulho em apneia, por exemplo, pode nos proporcionar analogias com as lideranças de melhor desempenho.

As analogias entre liderança e apneia podem ser observadas no que se refere a: objetivos, visualização da meta, variação de estratégias, concentração e foco, além de preparação.

No mergulho de apneia, alternam-se várias estratégias de treinamento, como veremos abaixo.

1. Preparação/treinamento: os treinos em apneia estática lhe ajudam a maximizar o tempo de uso do oxigênio. Os treinos de apneia em movimento, lhe ensinarão a trabalhar os efeitos do CO₂ e o desgaste físico do movimento. Ir mais longe e por mais tempo exige preparação e compreensão dos efeitos do O₂ e do CO₂ em seu corpo. A intensidade dos movimentos é inversamente proporcional ao uso do O₂. Ir mais rápido não é a melhor solução para ir mais longe. A preparação é fundamental para ampliar o desempenho e evitar os desgastes da equipe. A preparação, o treinamento e o desenvolvimento das competências organizacionais (soft e hard) são um processo continuado e deveriam ser alternados nas estratégias corporativas.  A chave está na capacidade de se preparar para aprender-desaprender-reaprender.
2. Variação de estratégias: treinar é fundamental, mas repetir estratégias para diferentes objetivos pode não funcionar. Mudar a abordagem dos temas, as ferramentas de ação, a sequência das atividades e as metas traz novas motivações e pode acelerar os resultados da organização.
3. Variação da intensidade: alternar alongamentos com máxima pulmonar e sem oxigênio trabalham a capacidade de apneia. A intensidade deveria ser gradativamente ampliada. A alternância de intensidade importa. Manter a mesma intensidade de atuação pode te afastar da meta. A alternância de relaxamento e esforço máximo reduz os riscos, as distrações e os desgastes da equipe em projetos de longo prazo.
4. Objetivos: traçar objetivos e metas desafiadoras é um dos papéis das lideranças de alto desempenho. Existem dois riscos, o de traçar objetivos impossíveis de serem alcançados ou de estabelecer metas muito fáceis que sejam desestimulantes e ineficientes mercadologicamente. Em apneia, fazemos treinos em circuitos de força e de máxima (distância e/ou tempo). O treino traça objetivos gradativamente maiores para que o mergulhador entenda as reações de seu corpo e seus limites. A evolução é gradativa, mas consistente e continuada. Traçar objetivos claros é importante, mas a trajetória até lá exige atenção ativa, presença para extrair aprendizados, ajustar os recursos, entender nossas potencialidades e emoções. Ou seja, trace objetivos, mas gerencie a trajetória e comemore os resultados intermediários.
5. Concentração e foco: a cada circuito de apneia, devemos fazer as respirações de relaxamento, para reduzir os batimentos cardíacos e o corpo se recuperar dos efeitos do CO2. A seguir, é importante fazermos as respirações de preparação para atingirmos a capacidade pulmonar máxima e atingir os objetivos. Ao final do percurso, devemos fazer as respirações de recuperação para normalizar o corpo. De igual forma os objetivos organizacionais, para serem atingidos precisam organizar metas claras, com definição de recursos, equipes e prazos. O objetivo de longo prazo é um parâmetro para as tomadas de decisão ao longo do percurso. Contudo, seu foco, sua concentração deveria estar no aqui e agora, em cada atividade cotidiana.
6. Feedback e instruções constantes: tão importantes quanto o feedback colaborativo, no qual a liderança e o colaborador determinam, juntos, os fatores de melhoria e as táticas para atingir os novos objetivos pactuados, são as lógicas de transmissão das instruções de trabalho. Mesmo as equipes mais competentes, deveriam receber instruções claras, com indicadores bem definidos, prazos viáveis, processos adequados e entregáveis (resultados) coerentes. É responsabilidade da liderança saber adequar a distribuição e a precisão das instruções ao perfil de cada membro da equipe. O mesmo se dá na apneia. Para percorrer um percurso, o técnico precisa explicar as etapas, possíveis barreiras, nível de desgaste esperado, tipo de equipamento (nadadeira monopalma ou bipalma, por exemplo). Para minimizar os riscos da atividade, as instruções precisam ser claras, práticas e repetidas com constância.

Diferentes esportes poderiam ser usados nessa comparação. O trabalho de um COACH (técnico esportivo) equilibra as competências técnicas e a inteligência emocional de cada jogador, com os objetivos do time. Isso é ajustado e revisitado a cada treino e a cada competição. As lideranças corporativas deveriam fazer o mesmo.